Não podemos dizer que Agosto foi monótono em termos noticiosos. O Governo da República quer fazer de nós - portugueses - parvos. Mas está a enganar-se a si próprio. E, ainda não percebeu ou não quer perceber, que a ladainha miserabilista e do "custe o que custar" já provou não ser a solução para os 'males' do país.
Se por um lado Agosto é o mês de férias, por excelência, este ano não foi exactamente assim, na medida em que as férias de uma imensa maioria dos trabalhadores nacionais foram, seguramente, "cá dentro" e sem direito a opção. O acesso a este direito (constitucionalmente consagrado), é agora tido como um "privilégio" e foi responsável pela descida (expectável) dos números do turismo. Felizmente, a subida dos turistas estrangeiros em Portugal atenuaram a forte quebra do mercado interno.
No entanto, existem exemplos de como é possível contrariar o estado depressivo em que vivemos. Na passada semana tive a oportunidade de participar numa das sessões de trabalho da edição 2012 da Universidade de Verão da Assembleia das Regiões da Europa (AER – Summer Schools) que decorreu em Ponta Delgada, de 20 a 25 de Agosto, no complexo científico da Universidade dos Açores.
Durante este período cerca de 130 participantes, oriundos dos mais diversos pontos da Europa, reuniram-se, entre nós, para discutir os desafios futuros em torno do potencial económico da cultura e das indústrias criativas, bem como, o papel das regiões da europa na sua promoção.
Neste sentido, assisti à comunicação de Francisca Abreu (vereadora da cultura da cidade de Guimarães) que fez um balanço dos primeiros 6 meses de - Guimarães, Capital Europeia da Cultura 2012, onde, de forma bastante concreta, foi apresentado o conceito no qual assentou toda a estratégia que esteve na essência da candidatura a Capital Europeia da Cultura. Mais do que um momento efémero, o projecto delineado para Guimarães é um processo de inclusão, numa acção que pretendeu, desde início, integrar a população na construção do futuro da cidade. Este plano foi concebido tendo por base o desenvolvimento económico local - numa região com uma taxa de desemprego jovem elevada, devido à crise que o sector têxtil atravessa - e a reabilitação urbana do centro histórico de Guimarães. Mas este processo não foi feito de um ano para o outro. Toda esta acção decorre há quase 15 anos e culminou com o processo de candidatura (e conquista) da Capital Europeia da Cultura.
Há, neste exemplo, inúmeras leituras que devemos retirar e reflectir sobre aquilo que nos rodeia. Sem um centro histórico dinâmico e com vida não há cidade que resista. Ponta Delgada é, infelizmente, disso, um mau exemplo. Acredito, contudo, apesar da inexistência de um plano estratégico para a cidade e para o concelho, que ainda possamos corrigir o vazio por que tem passado, nos últimos 20 anos, a maior autarquia dos Açores.
E o resultado de Guimarães 2012?! Ao contrário do resto do país, e graças a uma série de iniciativas, da programação e de uma comunicação actual e apelativa, Guimarães subiu em todos os indicadores económicos associados ao sector turístico, da hotelaria, à restauração, passando pelo número de entradas nos museus e espectáculos. É, igualmente, um sucesso de visibilidade e notoriedade internacional, com referências nas mais importantes publicações internacionais, desde o New York Times, à revista Wallpaper e ao Lonely Planet.
E o que temos nós a aprender com este tipo de exemplos?! Muito. A começar pelo modo como olhamos para quem organiza e dinamiza a coisa cultural, pois é a prova, mais do que provada, de que se trata de uma mais-valia económica, a qual pode ser potenciada se lhe for dada a escala devida.
A Cultura não deve servir de arma de arremesso eleitoral, nem de promessa demagógica de pré-campanha presente numa simples troca de "menos festas" por mais "apoios sociais aos idosos e famílias açorianas". Os açorianos não necessitam de palavras vãs, precisam, isso sim, de quem olhe com confiança para o futuro.
* Publicado na edição de 03/09/12 do AO
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