O país desconfinou na incerteza do dia seguinte. Não por confiança mas, sobretudo, por (imperiosa) necessidade.
Ao fim de dois meses, os casos voltaram a subir e a pressão económica (essencialmente turística) fez disparar os internamentos, sendo que (agora) a gravidade e a letalidade são (hipoteticamente) menores (e terão como alvo preferencial grupos etários mais jovens).
O número (diário) de vítimas associadas à Covid-19 passou a ser uma banalidade, remetida a nota de rodapé do boletim noticioso (à hora de jantar).
O (alto) risco mantém-se. Mas do pânico inicial (vivenciado em abril e maio do tempo que celebramos ter terminado), passamos à saturação colectiva e ao egoísmo narcisista (à porta fechada).
Ao contrário do que possamos desejar, a imunidade de grupo não (nos) garante a ausência de casos e o contágio.
Contudo, há quem considere que a vacina é a (sua) bolha de salvação (e cura eterna), contrastando com aqueles que a recusam por medo (de um destino pior do que aquele que lhes é prometido), alimentando um rol (absurdamente credível) de teorias da conspiração (facilmente propagável no scrolling da timeline).
O facto é que “uma única dose da vacina não confere um
grau de protecção tão elevado e que, por isso, é necessário que as pessoas
mantenham todos os cuidados, já mesmo depois de serem inoculadas” (Público,23/06/21).
Um dado que convém (sempre) relembrar, reiterando a
importância de aceder a informação (credível).
No arquipélago, o processo de vacinação tem permitido um
relaxamento das medidas sanitárias, em particular, nas ilhas onde foi possível
ter a colaboração da task-force (para o plano de vacinação contra a COVID-19 em
Portugal).
Por ser a maior ilha, com mais população, São Miguel tem
assistido a um incremento do processo de vacinação, sem que, no entanto, estes
dados tenham (ainda) influência na diminuição no número de casos (positivos)
que a continuam a martirizar.
O comprometimento de agir em conformidade (com as regras
impostas) é algo que cabe, a cada um de nós, cumprir, na individualização de um
acto colectivo (que todos atinge por igual).
O apelo à responsabilidade individual impõe-se mas temos de
aprender a viver com uma realidade (nova) que não desaparecerá por decreto.
Para tal, temos de equacionar a retoma progressiva, dentro
da razoabilidade possível, de todos os quadrantes da nossa vida colectiva.
Neste sentido, importa encarar com seriedade a reabertura do
sector cultural, tal como anunciado na passada quinta-feira pela Secretária
Regional da Saúde, impondo medidas que, atendendo à evolução da pandemia,
possam permitir o regresso ao(s) palco(s).
Mais do que uma excepcionalidade, é solicitado que seja
aplicado o mesmo critério que tem permitido que outros sectores económicos
possam funcionar (mesmo que o nível de risco concelhio seja elevado).
Por uma questão de equidade e coerência, parece-nos
fundamental a assumpção deste compromisso.
Simbolicamente, seria o reconhecimento que “o tempo que foge não é habitável” (Byung-Chul Han, 2019).
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