«(...) É legítimo, natural, naquela sessão, falar dos problemas e das dificuldades actuais. Mas quem não queira alimentar um certo saudosismo da ditadura e a mentirosa mitificação de Salazar, no mínimo não pode traçar um quadro assim negro da realidade do País, silenciando que a revolução libertadora de 1974 cumpriu todos os seus objectivos e foi fiel a todos os seus ideais e princípios.Opinião de José Carlos de Vasconcelos na edição desta semana da Visão. A reter.
Para um certo branqueamento da ditadura contribuem também comparações com o passado absolutamente falsas. Uma delas tem a ver com a liberdade de imprensa. Até já ouvi dizer, pasme-se, que se, no passado, havia Censura, agora também não há liberdade, por causa da existência de processos-crimes a jornalistas, em particular os de José Sócrates relativos a acusações ou suspeições de corrupção no caso Freeport. Ora, só quem não faz a mínima ideia do que foi a feroz Censura prévia, um dos principais instrumentos da tirania, nem sequer faz ideia do que é liberdade e Estado de Direito, pode fazer tal comparação, imbecil e injuriosa para o regime democrático.
Nós, jornalistas, respeitada a deontologia profissional e cumpridas as legis artis, temos o direito-dever de dar as notícias de interesse público, quem quer que seja que ponham em causa. Por sua vez, os cidadãos que se considerem atingidos por elas, mesmo sendo políticos, têm direito a recorrer aos tribunais (embora os políticos estejam sujeitos a especial escrutínio, com as naturais consequências, também jurídicas). Se nós, jornalistas, temos direito a emitir opiniões sobre a acção e o trabalho dos políticos - não nas notícias e separando-as claramente dos factos -, a inversa também é verdadeira e não constitui nenhum escândalo. Há aqui uma série de mal-entendidos e em alguns casos enche a boca com a liberdade quem não tem especial legitimidade nem autoridade moral para o fazer (...).»
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