quarta-feira, 16 de junho de 2010
Cultura, catalisador do desenvolvimento local
O Governo dos Açores tem em curso um ambicioso conjunto de investimentos em infra-estruturas, de modo a melhor dotar o arquipélago de múltiplas valências no domínio das artes performativas, na defesa do património móvel e imóvel, no apoio aos criadores e associações, na divulgação interna e externa da produção artística e na promoção da fruição de propostas contemporâneas.
Todas estas acções estão inseridas nos grandes objectivos estratégicos para o médio prazo, nomeadamente, naquele que visa Melhorar as Qualificações e as Competências dos Açorianos, e no qual a Cultura se inscreve como essencial.
Fazer com que a Cultura faça parte da vivência intrínseca das populações pode parecer utópico mas vislumbra-se, cada vez mais, como algo fundamental na formação contínua dos indivíduos. Esta questão deve constituir-se como basilar, deve ser estimulada, deve apelar aos mais novos e, por essa via, cultivar a “contaminação” dos mais velhos.
A fruição dos espaços culturais existentes, e a erigir, tem de ser encarada como uma mais-valia reprodutiva, não só ao nível cognitivo e do intelecto mas, também, como incremento económico no local de implementação.
O Museu e a Biblioteca Pública não podem ser espaços independentes da economia do “local” e devem ser, eles próprios, “o” ou “um” dos seus principais catalisadores económicos, no qual devem coexistir um número significativo de actividades interdependentes, constituindo-se, de forma integrada, como espaços “âncora”.
De modo a consubstanciar esta importância, o impacto do valor da Cultura no desenvolvimento local, realce para o número de entradas verificadas no conjunto dos Museus da região que, desde 2007, tem vindo progressivamente a subir, atingindo em 2009 cerca de 95.000 visitantes, mais 27.000 do que em 2007.
Estes dados são motivo de regozijo mas que podem e devem ser incrementados, na medida em que foram alcançados mesmo e apesar das obras de beneficiação, ampliação e modernização que decorrem em alguns dos nossos Museus. Um aspecto condicionante mas temporário, cuja execução é essencial para o seu bom desempenho e para a missão que lhes é confiada.
Os recursos são, em alguns casos, importa aqui referi-lo, limitados. Pelo que devemos pautar o investimento público para melhoria continuada das condições físicas e de recursos humanos dos organismos oficiais da Direcção Regional da Cultura, como elementos fundamentais na prossecução da política governamental para o sector.
Num país onde a criação está fortemente centralizada, e numa região como os Açores, geograficamente fragmentada, a descentralização cultural é um gesto que se impõe no crescimento e para o desenvolvimento de novos “centros”.
Como cidadãos portugueses, habitemos em Bragança ou em Sta. Cruz da Graciosa, temos o direito de aceder à Cultura e a um serviço público na área da fruição cultural, quer como criadores, participantes ou espectadores. Este é, sem margem para muitas dúvidas, um meio de alcançarmos uma Região, mais equilibrada, mais coesa e mais democrática.
Mas não falo apenas de “recepção” de oferta cultural de qualidade mas, sobretudo, de criação, de crítica e de avaliação, na relação com as diversas manifestações artísticas.
Independentemente do carácter descentralizador há que ter objectivos concretos na política de funcionamento destas infra-estruturas e há que sensibilizar e envolver as autarquias para as suas responsabilidades locais, neste sector, na medida em que são, em muitos casos, os responsáveis pelos equipamentos disponíveis. E, para isso, devem dotar-lhes dos meios e dos mecanismos para funcionar.
Devem todos trabalhar em “rede”, mesmo que não haja formalmente uma Rede.
A Cultura é, perante aquilo que representa e pelo que perspectiva, um sector de importância vital como “factor intangível de desenvolvimento” (in Carlos L. Medeiros, «Cultura, Factor de Criação de Riqueza», UCP, Lisboa, 2008). E a aposta continuada do Governo dos Açores, neste domínio, preconiza esta estratégia, a de vector basilar na formação, valorização e estímulo da sociedade açoriana.
Alexandre Pascoal
Maio 2010
* Adaptação da intervenção na ALRA em Maio’10
** Publicado na edição de 15 Jun'10 do Açoriano Oriental
*** Foto Olhares
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