sexta-feira, 29 de dezembro de 2023
Dignidade
sexta-feira, 15 de dezembro de 2023
Novo ciclo
Apesar da pandemia a Cultura tem demostrado capacidade em recuperar da adversidade por que passou, expressa por um aumento no emprego cultural (4,5% na União Europeia e 5,4% em Portugal), estimando-se que o número de pessoas empregadas seja de cerca de 200 mil, correspondendo a 4% da força de trabalho do país.
De igual modo, os números associados à fruição cultural
denotam uma retoma sustentada na realização de espectáculos ao vivo, no número
de visitantes nos museus ou no investimento dos municípios em actividades
culturais, com um impacto significativo nas receitas do sector.
Desengane-se quem considere que isto se faz sem investimento público, e sem políticas públicas, devidamente orientadas e munidas da
correspondente rubrica orçamental.
Em sentido contrário estão os Açores, em termos de (ir)relevância
governativa, manifestada pela ausência (de estratégia) e pela exiguidade
financeira, tanto nos organismos próprios como nos recursos alocados à criação
artística.
O futuro exige um novo ciclo que altere este estado de
coisas, colocando a Cultura como eixo referencial da vida pública no
arquipélago.
[+] publicado na edição de 15 dezembro 2023 do Açoriano Oriental
sábado, 18 de novembro de 2023
Síntese
Ao fim de apenas três anos, os Açores regrediram em todos os indicadores, ambientais, económicos e sociais.
O estado da região é motivo de preocupação, porquanto foi interrompido
um ciclo de melhoria continuada (e sustentada).
A sucessão incessante de iniciativas (e de medidas),
anunciadas mais do que uma vez, sem nunca ver a luz do dia, são a imagem de
marca de um governo entretido em (parecer) ser o que já todos perceberam (que
não é).
Ao contrário da exasperação dos líderes coligados, a
responsabilidade de uma eventual não aprovação do orçamento regional, só poderá
ser, única e exclusivamente, imputada aos seus responsáveis, promotores de uma
governação bairrista, permissiva e ziguezagueante, no decurso de uma penosa
legislatura.
A síntese para o cenário que se antecipa foi, recentemente, aventada
por Vasco Cordeiro, ao referir que: “a estabilidade não é um valor absoluto” e
que “ao serviço de um mau governo prejudica as empresas, as famílias e os
Açorianos.”
O futuro dos Açores não é um mero formalismo.
[+] publicado na edição de 17 novembro 2023 do Açoriano Oriental
Culto da aparência
Nas páginas deste jornal, de outros órgãos de comunicação social e das redes sociais de entidades oficiais, a auto-congratulação e a lisonja passaram a ser argumentos recorrentes para justificar a ausência de objectivos estratégicos, a implementação de reformas estruturais e a taxa da execução orçamental (inferior à prevista).
Se dúvidas houvesse, o relatório do Tribunal de Contas
tornou evidente a fragilidade (agravada) dos desafios com que os Açores estão
confrontados.
Na vacuidade do algoritmo (patrocinado), a desfaçatez (e
sobranceria), é repetida, até à exaustão, trasvestida de transparência e
bonomia, tal como o nome (infeliz) do programa dirigido às pessoas “sem-abrigo”,
em Ponta Delgada: HABITUA-TE, significará (!) “vai-te habituando a sair da ruapara ires para a tua casa”.
Perante o domínio do culto da aparência, importa enfatizar
que a acção governativa e a credibilidade dos seus protagonistas deve(ria) obedecer
a elevados critérios morais e reputacionais, como condição fundamental à gestão
da coisa pública e contributo (incondicional) para a confiança dos eleitores no
regime democrático e das suas instituições.
[+] publicado na edição de 03 novembro 2023 do Açoriano Oriental
sexta-feira, 13 de outubro de 2023
Artificialismo(s)
Entre concertos e a promoção do seu novo filme, Woody Allen falou com Ricardo Araújo Pereira para lhe dizer que teve “sorte” toda a sua vida.
Na cerimónia dos Globos de Ouro - A Garota Não, num dos
discursos mais emotivos da noite, referiu que: “Há quem tenha muita sorte. Asorte, a mim, tem-me dado muito trabalho”.
Nestes dois exemplos, a genialidade e a criatividade não são
fruto do acaso.
Nos Açores, o projecto de governo em curso, exaspera por
novembro, numa cadência, pouco sincopada, para satisfazer os novos centros depoder, com recurso a medidas à la minute, embrulhadas na ilusão dos números.
A execução do investimento é historicamente baixa e o
artificialismo da (des)governação fica patente pela gestão do episódio dos
sub-23 do Santa Clara e pelo desinteresse (realista) da
sociedade civil em torno do Acordo de Parceria Estratégica, assinado há cerca
de um mês, o qual não obteve, até ao momento, a adesão de mais parceiros sociais.
Tal como a canção dos Talking Heads, magistralmente
interpretada por David Byrne, seguimos, alegremente, “on
a road to nowhere”.
[+] publicado na edição de 13 outubro 2023 do Açoriano Oriental
sexta-feira, 22 de setembro de 2023
Estrutural
Em Dia Europeu sem Carros, recordamos todos, sem excepção,
individual e colectivamente, aquilo que afirmamos querer mas que na prática não
fazemos (acontecer).
Existe no arquipélago um enorme preconceito (e estigma) em
relação ao uso de transportes públicos, no qual o investimento realizado não
garantiu uma solução integrada.
Para quem não tem alternativa de transporte e tem de se
socorrer do autocarro para ir trabalhar, paga um serviço caro e que, na maioria
das vezes, não dá resposta, nem contribui para a qualidade de vida dos
utilizadores (em termos de frequências e de horários).
O desafio (presente) passa pela ambição de querer mudar, trabalhando
com as partes interessadas, no sentido de perceber como é que implementamos (de
forma equilibrada) uma “reforma profunda e estrutural dos transportes coletivos de passageiros”, como defende o líder do maior partido da oposição.
Nos Açores, nesta matéria, nem está tudo feito, nem tudo por fazer e, não existindo soluções simples, o impulso terá mesmo de ser de quem governa, algo que (hoje) não se vê, nem se fala.
[+] publicado na edição de 22 setembro 2023 do Açoriano Oriental
Saber fazer
Em Ponta Delgada, as obras do Mercado da Graça arriscam-se a
ser de Santa Engrácia, tal tem sido a morosidade do processo e do imbróglio (político
e burocrático) em que o mesmo se transformou.
A situação provisória é indigna, sobretudo, para quem lá
trabalha todos os dias. Isto sem falar no prejuízo infligido aos comerciantes
que desesperam por uma luz que os faça sair do buraco em que os meteram.
No processo preparatório para a renovação do “farmers market”,
teria sido útil uma frutuosa reflexão sobre o uso futuro do espaço, nomeadamente,
se o mesmo cumpria com as necessidades actuais ou se, eventualmente, deveria
ser deslocalizado para uma zona urbana a necessitar de reabilitação, dotando-o
de outra dimensão e melhores condições de acessibilidade.
As cidades são feitas de mudanças, e aqui, como nas obras no
centro histórico, importa(ria) concretizar estes projectos com recurso a um
plano estratégico, com um reposicionamento transversal e visionário, ao invés
de uma operação de cosmética (de duvidosa utilidade) para turista ver.
Para que isto possa acontecer, faltará, também, ao executivo
municipal, nesta e noutras dimensões, saber fazer.
[+] publicado na edição de 8 setembro 2023 do Açoriano Oriental
Ausência(s)
O país (e o mundo) sofre(m) as consequências da urgência
climática, com elevadas temperaturas (Julho foi o mais quente desde que há registos) e incêndios explosivos.
Nos Açores, a chuva é convidada do Verão. O espectáculo (de relâmpagos
e de luz) causado(s) pela tempestade, não fazia prever as inundações em vias e habitações (no norte da ilha de São Miguel).
Nesta legislatura, a política ambiental (também, mas não só)
eclipsou-se. Felizmente, desta vez, não houve vítimas mortais, se as houvesse
talvez (os dirigentes políticos) se dignassem a comparecer e prestar
solidariedade a quem assistiu à natureza a entrar-lhe, literalmente, pela porta
adentro.
As alterações climáticas não são futurologia, fazem parte do
nosso presente, não há como evitar, nem ignorar.
O que se exige, a quem governa, é que planeie e execute
medidas preventivas que consigam minorar os prejuízos causados por eventos
climáticos extremos.
A ausência de respostas em áreas fundamentais como os resíduos,
infestantes, a limpeza de ribeiras, térmitas e trilhos pedestres deviam
preocupar quem, aparentemente, “comemora o passado, olha o presente” e diz
querer “projetar o futuro”.
[+] publicado na edição de 25 agosto 2023 do Açoriano Oriental
PEMTA
O governo regional decidiu a revisão do Plano Estratégico e de Marketing do Turismo dos Açores (PEMTA), elaborado em 2015,
sem que desse a conhecer o balanço da implementação ocorrida até aqui.
Seguimos em frente, sem sequer querer olhar para trás, nem
reflectir o que ocorreu menos bem, na ilusão que os números estão a nosso favor
e que o crescimento (aparentemente ilimitado) é o único caminho.
Resta-nos o jargão da sustentabilidade que é receita para
todas as maleitas e a solução (final) para o desenvolvimento económico e social
da região.
A diferenciação que assumimos (de)ter é aquela que não
depende da natureza humana. A exuberância da paisagem que nos envolve é a (única)
razão pela qual o arquipélago existe como destino turístico.
Uma das medidas do PEMTA residia em gerar uma “Cultura de
Turismo nos Açores” e de “Hospitalidade Açoriana”. Seria importante avaliar
este objectivo, uma vez que continua a ser mais fácil obter (na restauração
local) uma sobremesa (massificada) do que um doce tradicional.
Urge medir este estado de coisas através do acesso (com
maior regularidade) aos inquéritos de satisfação do turista que visita os
Açores (como contraponto, necessário e fundamental, ao vazio dos números).
[+] publicado na edição de 11 agosto 2023 do Açoriano Oriental
Shuttle
A época alta vai a meio e o clima é de apreensão.
2023 é suposto ser o melhor verão turístico (numericamente
falando), mas as notícias perspectivam a saída do arquipélago dos Açores (a
partir de Outubro) da companhia aérea de baixo custo que transportou, desde
2015, segundo os próprios, cerca de 2.8 milhões de passageiros.
O que é que mudou na VisitAzores (ex-ATA) com a presidência
(e a reentrada na Associação) do governo regional?
Na ausência de uma planificação atempada e de um
posicionamento estratégico, integrado e transversal no desenvolvimento da(s)
ilha(s), o pêndulo governamental balança consoante o descontentamento sectorial
ou a birra ocasional (e permanente) dos parceiros da coligação que (des)governa,
aquele que já foi um exemplo na execução de fundos comunitários (situação que
actualmente não se verifica).
A instabilidade gerada pela ausência ou, simplesmente, por
uma atitude irresponsável (do deixa andar para ver no que dá), poderá levar a
consequências gravosas e imprevisíveis.
Os Açores não podem ser governados por especialistas do
passa-culpas, como se fosse um “shuttle” (indiferenciado) em regime “hop-on, hop-off”.
[+] publicado na edição de 28 julho 2023 do Açoriano Oriental
Reflexão
[+] publicado na edição de 7 julho 2023 do Açoriano Oriental
sexta-feira, 7 de julho de 2023
Silêncios
A destruição da infraestrutura portuária, na ilha das Flores, em outubro 2019, foi sinalizada como uma situação de catástrofe (e devia ter continuado a ser tratada como tal).
Desde então, os impactos da (falta) de operacionalidade
fazem-se sentir na importação de bens essenciais, como na exportação do que a
ilha produz. Os resíduos sólidos urbanos (RSU) são parte integrante (activa) desta
equação.
Importa salientar que, até 2019, o funcionamento do Centro
de Processamento de Resíduos das Flores decorreu normalmente e que a ilha foi a
primeira do arquipélago a atingir o objetivo de “aterro zero” (2016).
Chegados a 2023, o Governo (Regional) decide “enterrar” 1.300
toneladas de lixo. Com um histórico de crescimento na produção de resíduos
urbanos (1791, em 2021, para 1855 toneladas, em 2022), como foi possível permitir
que esta situação se acumulasse, à vista de todos, ao ponto de se tornar um
caso de “saúde pública”?
Convém recordar que a ilha das Flores é, desde 2009, Reserva
da Biosfera.
Dos partidos da solução governativa e de algumas associações
ambientalistas, nem uma palavra.
Nos Açores, neste, como em outros temas, vive-se um tempo nebuloso
envolto num manto de silêncios (cúmplices).
[+] publicado na edição de 23 junho 2023 do Açoriano Oriental
sexta-feira, 23 de junho de 2023
Previsibilidade
Perante o falhanço (que já não é aparente) do Governo Regional dos Açores no cumprimento das medidas do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), atestado por uma plêiade alargada de empresários, associações ou do próprio Conselho Económico e Social dos Açores (CESA), assistimos a uma litigância ensaiada dirigida (na vã tentativa de justificar as suas próprias insuficiências) ao Governo da República.
Nestes últimos meses, este atraso endémico tem sido responsavelmente
sinalizado, pelo maior partido da oposição, corporizando politicamente as vozes
da economia regional que, em uníssono, sentem na pele a ausência de liderança na
gestão e aplicação destes importantes recursos.
Esta semana, o CESA voltou a reconhecer que “nada evoluiu”
nos “marcos e metas que já estavam atrasados dos trimestres anteriores”, manifestando,
o que é experienciado, quotidianamente, em todas as ilhas, por agentes económicos
e sociais e pela administração pública regional, a falta de competência deste
Governo Regional. A que agora acresce, gravosamente, a sua incapacidade
institucional na relação com a República.
Previsibilidade, é uma palavra que esta solução governativa deprecia (e aparenta desconhecer) e que tanta falta faz aos Açores (e aos Açorianos). Apesar de coligada, a responsabilidade permanece oculta.
[+] publicado na edição de 26 maio 2023 do Açoriano Oriental
quinta-feira, 22 de junho de 2023
terça-feira, 23 de maio de 2023
O que nos falta
Numa altura em que estamos a viver um momento particularmente trágico, o fim da pandemia fez regressar a normalidade (possível) à indústria, que vive do turismo.
O incremento turístico no arquipélago é fruto de anos de
investimento e de posicionamento do destino em mercados internacionais. Validado,
sobretudo, por marketing, eventos e a certificação de boas políticas ambientais.
O discurso oficial procura legitimação através dos indicadores
quantitativos, negligenciando riscos qualitativos agravados, em períodos de
maior pressão, apenas, para os actuais níveis de procura, mesmo sabendo que nem
todas as ilhas têm o mesmo grau de resposta (e atractividade).
No ecossistema regional, as dinâmicas turísticas não são
idênticas, nem lineares, pelo que importaria analisar, como é que os residentes
encaram o impacto dos sobrecustos inerentes ao incremento turístico no seu
orçamento familiar (e qualidade de vida).
A tão propalada sustentabilidade, económica e ambiental, só se verifica se o Turismo “for bom para os locais e para os residentes.” Citando o filósofo francês Frédéric Neyrat, “temos de ser utópicos, não de forma ingénua, mas para revelar a sociedade em que vivemos e para revelar o que nos falta.”
[+] publicado na edição de 12 maio 2023 do Açoriano Oriental
sexta-feira, 12 de maio de 2023
Igualdade
A discussão sobre a igualdade de género não se resume a uma questão da falta de representatividade em lugares institucionais, e se os mesmos devem, ou não, ser preenchidos por quotas.
As quotas já se provou ser um mal necessário, porquanto não
devia sequer existir um recurso para garantir algo basilar, sendo que,
obviamente, o mérito extravasará qualquer quota, seja ela de género ou de outra
coisa qualquer.
Nos Açores, as mulheres representam 51,2% da população (para
um total de 236.413 residentes) e, na última década, assistimos a uma
progressão significativa da sua integração na vida activa atingindo as 55.746
(46%) para um universo de 121.164 indivíduos (em 1996 era de apenas 35%).
Apesar das enormes conquistas, da sua centralidade e
importância, a secundarização do papel da mulher na sociedade açoriana é,
ainda, algo enquistado a que urge dar prioridade.
A este propósito, a Assembleia Legislativa dos Açores tornou
pública a lista de agraciados no Dia da Região, das 27 insígnias honoríficas
açorianas previstas, 15% destinam-se a mulheres, uma a título póstumo.
Simbolicamente, há homenagens que só devem acontecer em vida.
+ publicado na edição de 28 abril 2023 do Açoriano Oriental