sexta-feira, 22 de março de 2024

Cheque-Livro

Os resultados de um inquérito sobre a avaliação da qualidade de vida dos portugueses, promovido pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), no período pós-Covid, revelaram que 58,1% dos inquiridos referiram não ter lido um livro nos últimos 12 meses, a maior parte dos quais (65,7%) por falta de interesse.

Arrisco-me a dizer que nos Açores os resultados não serão melhores, podemos até ser um “arquipélago de escritores”, edições não faltam, efectivamente, receio é que leitores, nem tanto.

As poucas livrarias que resistem, lutam pela sua sobrevivência. Para alterar este estado de coisas, importa pôr a funcionar um Plano Regional de Leitura que consiga sair do papel para a rua.

Como forma de afirmar a importância do livro, da leitura e combater a iliteracia, foi (ontem) publicada uma portaria assinada pelo Ministro da Cultura que define o regime legal para o Cheque-Livro, no valor de 20 euros para quem fez 18 anos em 2005/2006, abrangendo cerca de 200.000 jovens (em todo o país) com um investimento global de 4.4ME.

Esta é uma medida simbólica que visa, a par de outras, fazer da Cultura, parafraseando Pedro Adão e Silva, o “elevador social” deste novo século.

[+] publicado na edição de 22 março 2024 do Açoriano Oriental

sexta-feira, 8 de março de 2024

É fazer as contas

A terminar a campanha eleitoral para as legislativas, o tempo de antena da Cultura foi reduzido a uma pequena nota de rodapé, na qual, todos os partidos, quase sem excepção, garantiram aumentos (uns mais generosos do que outros) para o futuro orçamento do sector artístico e cultural. Nada de novo aqui, vamos a factos.

O caminho percorrido nestes anos de governação (do partido socialista) demonstrou quem passa das palavras aos actos, no qual foi interrompido um ciclo de irrelevância, materializado por um aumento real do orçamento (+174%) passando, em 2015, dos 189 para os 518 milhões de euros em 2024 (sem contabilizar a RTP).

As estruturas sediadas no arquipélago passaram a ter (desde 2018) acesso aos apoios nacionais promovidos pela Direção-Geral das Artes, a variação do investimento público nacional (na região) nos ciclos de apoio sustentado, entre 2018/2021 e 2023/2026, foi de 505% (€500.000 para 3.1 milhões de euros, e a soma total de todos os apoios tutelados pelo Governo da República ascendeu aos 5ME).

Nos Açores, este incremento é um exemplo incontornável e tem sido crucial para a visibilidade, profissionalização e desenvolvimento do território (e de quem nele trabalha).

É (só) fazer as contas!

[+] publicado na edição de 08 março 2024 do Açoriano Oriental

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Leituras destes dias

O mundo tal como o conhecíamos escapasse-nos entre os dedos, a mudança faz-se a todos os níveis. Tal como refere Miguel Esteves Cardoso, numa das suas crónicas diárias, algumas destas paisagens (sociais, políticas e culturais) “ainda não sabem que estão a morrer” mas esta inevitabilidade já faz parte do seu quotidiano, na medida em que “todas as mortes são anunciadas” mas “nós é que não sabemos ler os anúncios.”

Por estes dias, o diálogo (político) parece acontecer de forma unilateral, num exercício de forma em que o debate não mais é do que “uma batalha verbal” (Mariano Sigman) perene de (pre)conceitos, mentira(s) e pouca noção do real.

Nesta era da exacerbação niilista (de egos e de extremos), as redes sociais representam um papel primordial, porquanto enfurecem e inflamam as pessoas, fazendo com que sejamos “cada vez menos capazes de nos ouvirmos uns aos outros” (Michael Sandel).

A somar a tudo isto há quem intente “passar a mentira por verdade ou difame a verdade como mentira” (Byung-Chul Han).

Estes serão, muito provavelmente, alguns dos problemas mais urgentes com que a democracia está confrontada. Eles andam por aí…e alguns por aqui.

[+] publicado na edição de 23 fevereiro 2024 do Açoriano Oriental

sábado, 10 de fevereiro de 2024

Ambivalentes

O ruído noticioso (e falacioso) contamina tudo e todos, com particular disseminação nas redes sociais, conduzindo a uma maior polarização da sociedade, a um sentimento de desesperança e ao descontentamento generalizado. Território fértil para os populistas.  

A integridade e a ética não podem ser úteis apenas quando nos são favoráveis. Parte do descrédito associado aos políticos (da actualidade) deriva das suas posições ambivalentes.

As investigações criminais insulares (recentes) são, a este respeito, um bom exemplo de como o entendimento partidário acaba por exigir uma coisa em território continental e defender o inverso quando se trata de um membro da nossa família política.

Ao contrário dos que defendem (irresponsavelmente) a generalização da corrupção (que mais não é um reflexo do que somos como sociedade), há que aplaudir as investigações judiciais e o maior escrutínio da gestão da coisa pública.

Existirá, igualmente, quem considere que o ministério público não respeita o calendário político. Em que medida será ele, alguma vez que seja, oportuno? E, neste âmbito, qual a leitura (política) às recomendações do Tribunal de Contas no rescaldo eleitoral (nos Açores)?

[+] publicado na edição de 9 fevereiro 2024 do Açoriano Oriental

terça-feira, 30 de janeiro de 2024

Responsabilidade

Estes três anos de (des)governo da coligação de direita (de)mostraram a falta de competência de quem tem dirigido os destinos dos Açores.

A comprová-lo estão os números e indicadores de inúmeros organismos insuspeitos, os alertas de académicos, empresas e instituições, mas sobretudo a realidade com que somos confrontados quotidianamente nas ruas das nossas vilas e cidades.

A 10 dias das eleições não se conhece o programa eleitoral da coligação. Nas palavras do filósofo José Gil, a escrita é um “instrumento essencial de poder” e esta será, apenas, mais uma prova da normalização do desrespeito pelo acto eleitoral, pelas instituições e, em última instância, pelos eleitores.

Nesta campanha eleitoral há quem evite o debate de ideias (se as detivermos, evidentemente), apenas releve o ruído, as meias-verdades e o incitamento ao ódio (pelos mais frágeis).

Vasco Cordeiro é a única personalidade com a capacidade de liderar o futuro com responsabilidade, sem ingerências e um discurso titubeante, assumindo (frontalmente) compromissos concretos para o desenvolvimento dos Açores. O Presidente de Confiança!

[+] publicado na edição de 26 janeiro 2024 do Açoriano Oriental

sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

Verdade










Nos últimos 15 anos estas ilhas foram dotadas de espaços de fruição propícios ao melhor desenvolvimento da produção e da criação cultural.

Acredito que o futuro passa, inexoravelmente, pela criação de um percurso profissionalizante para as instituições (e criadores regionais) e por garantir a circulação, dentro e fora de portas, da Cultura que aqui se faz. Fazer crescer cultural e socialmente uma comunidade requer investimento e continuidade num trabalho em parceria, na partilha e na prossecução de objectivos comuns.

No encontro promovido, esta semana, pelo Partido Socialista, com um grupo de agentes e artistas açorianos, ficou evidente o compromisso de Vasco Cordeiro, no estabelecimento de uma relação de confiança e que fale verdade com e para o sector cultural e criativo.

Nas palavras de Nicholas Serota (ex-director da TATE e presidente do Arts Council England), “o Estado tem a responsabilidade de investir no futuro, o que quer dizer gastar dinheiro no presente.”

Os desafios são mais que muitos. É essencial pensar a cultura como desenvolvimento estratégico, um investimento e não como um gasto supérfluo.

 [+] publicado na edição de 12 janeiro 2024 do Açoriano Oriental

sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

Dignidade

Em tempo de balanço do ano que agora finda, recupero as palavras de indignação dos agentes culturais açorianos a propósito do atraso dos pagamentos do regime de apoios às atividades culturais: “Nunca, mas nunca, em tempo algum, houve um atraso tão prolongado para saírem os resultados e com consequências tão nefastas para os agentes culturais” (…) “Há muita gente que não recebeu rigorosamente nada” (…) “No caso das estruturas profissionais, se não fosse o Governo central não havia trabalho feito, porque não havia como as sustentar” (…) “Normalizou-se um discurso de que um atraso não é um problema, que não é tão mau, que foi apenas mais tarde um mês ou dois do que no ano anterior. Isto é ridículo, é uma ofensa” (…) “É o pior ano de que há memória e não vale a pena negar”. 

Os desafios sempre existiram, mas nunca a sobranceria e o desinteresse (da tutela governamental) foram tão evidentes (e gravosos). 

No próximo ano existe a oportunidade de alterar este estado de coisas e conferir à Cultura, e a quem nela trabalha, a dignidade que merecem, como um pilar de desenvolvimento (social e económico) e de afirmação identitária.

[+] publicado na edição de 29 dezembro 2023 do Açoriano Oriental

sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

Novo ciclo

Apesar da pandemia a Cultura tem demostrado capacidade em recuperar da adversidade por que passou, expressa por um aumento no emprego cultural (4,5% na União Europeia e 5,4% em Portugal), estimando-se que o número de pessoas empregadas seja de cerca de 200 mil, correspondendo a 4% da força de trabalho do país.

De igual modo, os números associados à fruição cultural denotam uma retoma sustentada na realização de espectáculos ao vivo, no número de visitantes nos museus ou no investimento dos municípios em actividades culturais, com um impacto significativo nas receitas do sector.

Desengane-se quem considere que isto se faz sem investimento público, e sem políticas públicas, devidamente orientadas e munidas da correspondente rubrica orçamental.

Em sentido contrário estão os Açores, em termos de (ir)relevância governativa, manifestada pela ausência (de estratégia) e pela exiguidade financeira, tanto nos organismos próprios como nos recursos alocados à criação artística.

O futuro exige um novo ciclo que altere este estado de coisas, colocando a Cultura como eixo referencial da vida pública no arquipélago.

[+] publicado na edição de 15 dezembro 2023 do Açoriano Oriental

sábado, 18 de novembro de 2023

Síntese

Ao fim de apenas três anos, os Açores regrediram em todos os indicadores, ambientais, económicos e sociais.

O estado da região é motivo de preocupação, porquanto foi interrompido um ciclo de melhoria continuada (e sustentada).

A sucessão incessante de iniciativas (e de medidas), anunciadas mais do que uma vez, sem nunca ver a luz do dia, são a imagem de marca de um governo entretido em (parecer) ser o que já todos perceberam (que não é).

Ao contrário da exasperação dos líderes coligados, a responsabilidade de uma eventual não aprovação do orçamento regional, só poderá ser, única e exclusivamente, imputada aos seus responsáveis, promotores de uma governação bairrista, permissiva e ziguezagueante, no decurso de uma penosa legislatura.

A síntese para o cenário que se antecipa foi, recentemente, aventada por Vasco Cordeiro, ao referir que: “a estabilidade não é um valor absoluto” e que “ao serviço de um mau governo prejudica as empresas, as famílias e os Açorianos.”

O futuro dos Açores não é um mero formalismo.

[+] publicado na edição de 17 novembro 2023 do Açoriano Oriental

Culto da aparência

Nas páginas deste jornal, de outros órgãos de comunicação social e das redes sociais de entidades oficiais, a auto-congratulação e a lisonja passaram a ser argumentos recorrentes para justificar a ausência de objectivos estratégicos, a implementação de reformas estruturais e a taxa da execução orçamental (inferior à prevista).

Se dúvidas houvesse, o relatório do Tribunal de Contas tornou evidente a fragilidade (agravada) dos desafios com que os Açores estão confrontados.

Na vacuidade do algoritmo (patrocinado), a desfaçatez (e sobranceria), é repetida, até à exaustão, trasvestida de transparência e bonomia, tal como o nome (infeliz) do programa dirigido às pessoas “sem-abrigo”, em Ponta Delgada: HABITUA-TE, significará (!) “vai-te habituando a sair da ruapara ires para a tua casa”.

Perante o domínio do culto da aparência, importa enfatizar que a acção governativa e a credibilidade dos seus protagonistas deve(ria) obedecer a elevados critérios morais e reputacionais, como condição fundamental à gestão da coisa pública e contributo (incondicional) para a confiança dos eleitores no regime democrático e das suas instituições.

[+] publicado na edição de 03 novembro 2023 do Açoriano Oriental

sexta-feira, 13 de outubro de 2023

Artificialismo(s)

Entre concertos e a promoção do seu novo filme, Woody Allen falou com Ricardo Araújo Pereira para lhe dizer que teve “sorte” toda a sua vida.

Na cerimónia dos Globos de Ouro - A Garota Não, num dos discursos mais emotivos da noite, referiu que: “Há quem tenha muita sorte. Asorte, a mim, tem-me dado muito trabalho”.

Nestes dois exemplos, a genialidade e a criatividade não são fruto do acaso.

Nos Açores, o projecto de governo em curso, exaspera por novembro, numa cadência, pouco sincopada, para satisfazer os novos centros depoder, com recurso a medidas à la minute, embrulhadas na ilusão dos números.

A execução do investimento é historicamente baixa e o artificialismo da (des)governação fica patente pela gestão do episódio dos sub-23 do Santa Clara e pelo desinteresse (realista) da sociedade civil em torno do Acordo de Parceria Estratégica, assinado há cerca de um mês, o qual não obteve, até ao momento, a adesão de mais parceiros sociais.

Tal como a canção dos Talking Heads, magistralmente interpretada por David Byrne, seguimos, alegremente, “on a road to nowhere”.

[+] publicado na edição de 13 outubro 2023 do Açoriano Oriental

sexta-feira, 22 de setembro de 2023

Estrutural

Em Dia Europeu sem Carros, recordamos todos, sem excepção, individual e colectivamente, aquilo que afirmamos querer mas que na prática não fazemos (acontecer).

Existe no arquipélago um enorme preconceito (e estigma) em relação ao uso de transportes públicos, no qual o investimento realizado não garantiu uma solução integrada.

Para quem não tem alternativa de transporte e tem de se socorrer do autocarro para ir trabalhar, paga um serviço caro e que, na maioria das vezes, não dá resposta, nem contribui para a qualidade de vida dos utilizadores (em termos de frequências e de horários).

O desafio (presente) passa pela ambição de querer mudar, trabalhando com as partes interessadas, no sentido de perceber como é que implementamos (de forma equilibrada) uma “reforma profunda e estrutural dos transportes coletivos de passageiros”, como defende o líder do maior partido da oposição.

Nos Açores, nesta matéria, nem está tudo feito, nem tudo por fazer e, não existindo soluções simples, o impulso terá mesmo de ser de quem governa, algo que (hoje) não se vê, nem se fala.

[+] publicado na edição de 22 setembro 2023 do Açoriano Oriental

Saber fazer

Em Ponta Delgada, as obras do Mercado da Graça arriscam-se a ser de Santa Engrácia, tal tem sido a morosidade do processo e do imbróglio (político e burocrático) em que o mesmo se transformou.

A situação provisória é indigna, sobretudo, para quem lá trabalha todos os dias. Isto sem falar no prejuízo infligido aos comerciantes que desesperam por uma luz que os faça sair do buraco em que os meteram.

No processo preparatório para a renovação do “farmers market”, teria sido útil uma frutuosa reflexão sobre o uso futuro do espaço, nomeadamente, se o mesmo cumpria com as necessidades actuais ou se, eventualmente, deveria ser deslocalizado para uma zona urbana a necessitar de reabilitação, dotando-o de outra dimensão e melhores condições de acessibilidade.

As cidades são feitas de mudanças, e aqui, como nas obras no centro histórico, importa(ria) concretizar estes projectos com recurso a um plano estratégico, com um reposicionamento transversal e visionário, ao invés de uma operação de cosmética (de duvidosa utilidade) para turista ver.

Para que isto possa acontecer, faltará, também, ao executivo municipal, nesta e noutras dimensões, saber fazer.

[+] publicado na edição de 8 setembro 2023 do Açoriano Oriental

Ausência(s)

O país (e o mundo) sofre(m) as consequências da urgência climática, com elevadas temperaturas (Julho foi o mais quente desde que há registos) e incêndios explosivos.

Nos Açores, a chuva é convidada do Verão. O espectáculo (de relâmpagos e de luz) causado(s) pela tempestade, não fazia prever as inundações em vias e habitações (no norte da ilha de São Miguel).

Nesta legislatura, a política ambiental (também, mas não só) eclipsou-se. Felizmente, desta vez, não houve vítimas mortais, se as houvesse talvez (os dirigentes políticos) se dignassem a comparecer e prestar solidariedade a quem assistiu à natureza a entrar-lhe, literalmente, pela porta adentro.

As alterações climáticas não são futurologia, fazem parte do nosso presente, não há como evitar, nem ignorar.

O que se exige, a quem governa, é que planeie e execute medidas preventivas que consigam minorar os prejuízos causados por eventos climáticos extremos.

A ausência de respostas em áreas fundamentais como os resíduos, infestantes, a limpeza de ribeiras, térmitas e trilhos pedestres deviam preocupar quem, aparentemente, “comemora o passado, olha o presente” e diz querer “projetar o futuro”.

[+] publicado na edição de 25 agosto 2023 do Açoriano Oriental

PEMTA

O governo regional decidiu a revisão do Plano Estratégico e de Marketing do Turismo dos Açores (PEMTA), elaborado em 2015, sem que desse a conhecer o balanço da implementação ocorrida até aqui.

Seguimos em frente, sem sequer querer olhar para trás, nem reflectir o que ocorreu menos bem, na ilusão que os números estão a nosso favor e que o crescimento (aparentemente ilimitado) é o único caminho.

Resta-nos o jargão da sustentabilidade que é receita para todas as maleitas e a solução (final) para o desenvolvimento económico e social da região.

A diferenciação que assumimos (de)ter é aquela que não depende da natureza humana. A exuberância da paisagem que nos envolve é a (única) razão pela qual o arquipélago existe como destino turístico.

Uma das medidas do PEMTA residia em gerar uma “Cultura de Turismo nos Açores” e de “Hospitalidade Açoriana”. Seria importante avaliar este objectivo, uma vez que continua a ser mais fácil obter (na restauração local) uma sobremesa (massificada) do que um doce tradicional.

Urge medir este estado de coisas através do acesso (com maior regularidade) aos inquéritos de satisfação do turista que visita os Açores (como contraponto, necessário e fundamental, ao vazio dos números).

[+] publicado na edição de 11 agosto 2023 do Açoriano Oriental

Shuttle

A época alta vai a meio e o clima é de apreensão.

2023 é suposto ser o melhor verão turístico (numericamente falando), mas as notícias perspectivam a saída do arquipélago dos Açores (a partir de Outubro) da companhia aérea de baixo custo que transportou, desde 2015, segundo os próprios, cerca de 2.8 milhões de passageiros.

O que é que mudou na VisitAzores (ex-ATA) com a presidência (e a reentrada na Associação) do governo regional?  

Na ausência de uma planificação atempada e de um posicionamento estratégico, integrado e transversal no desenvolvimento da(s) ilha(s), o pêndulo governamental balança consoante o descontentamento sectorial ou a birra ocasional (e permanente) dos parceiros da coligação que (des)governa, aquele que já foi um exemplo na execução de fundos comunitários (situação que actualmente não se verifica).

A instabilidade gerada pela ausência ou, simplesmente, por uma atitude irresponsável (do deixa andar para ver no que dá), poderá levar a consequências gravosas e imprevisíveis.

Os Açores não podem ser governados por especialistas do passa-culpas, como se fosse um “shuttle” (indiferenciado) em regime “hop-on, hop-off”.

[+] publicado na edição de 28 julho 2023 do Açoriano Oriental

Reflexão

Recordes. Todos os meses são conhecidos os números de passageiros desembarcados nos aeroportos dos Açores, nas escalas de cruzeiros ou nas dormidas em alojamento turístico. 

A tentação é grande, mas não somos um caso isolado. A procura por experiências em novos destinos, tem sido a tendência do turismo global no pós-pandemia. 

Esta aparente euforia num crescimento desmedido comporta riscos (acrescidos) e, para além de uma sólida planificação, deve levar a uma ampla reflexão. 

É um erro encarar o arquipélago como um território uniforme, em que a realidade experienciada pode ser vendida por igual. 

Considero irresponsável perspectivar um crescimento infinito, alimentado por uma ânsia (gananciosa) de curto prazo e por um movimento contínuo na proliferação de empreendimentos turísticos, sem garantir as condições (mínimas) para um acolhimento diferenciado e sustentável (um conceito que implica compromisso, mas que hoje, malogradamente, já não significa grande coisa). 

Já aqui o escrevi, e há que dizê-lo as vezes que for necessário, replicar o mesmo modelo de desenvolvimento por todas as ilhas, sem olhar às suas especificidades (particularismos e autenticidade), é uma receita para o desastre.

[+] publicado na edição de 7 julho 2023 do Açoriano Oriental

sexta-feira, 7 de julho de 2023

Silêncios

A destruição da infraestrutura portuária, na ilha das Flores, em outubro 2019, foi sinalizada como uma situação de catástrofe (e devia ter continuado a ser tratada como tal).

Desde então, os impactos da (falta) de operacionalidade fazem-se sentir na importação de bens essenciais, como na exportação do que a ilha produz. Os resíduos sólidos urbanos (RSU) são parte integrante (activa) desta equação.

Importa salientar que, até 2019, o funcionamento do Centro de Processamento de Resíduos das Flores decorreu normalmente e que a ilha foi a primeira do arquipélago a atingir o objetivo de “aterro zero” (2016).

Chegados a 2023, o Governo (Regional) decide “enterrar” 1.300 toneladas de lixo. Com um histórico de crescimento na produção de resíduos urbanos (1791, em 2021, para 1855 toneladas, em 2022), como foi possível permitir que esta situação se acumulasse, à vista de todos, ao ponto de se tornar um caso de “saúde pública”?

Convém recordar que a ilha das Flores é, desde 2009, Reserva da Biosfera.

Dos partidos da solução governativa e de algumas associações ambientalistas, nem uma palavra.

Nos Açores, neste, como em outros temas, vive-se um tempo nebuloso envolto num manto de silêncios (cúmplices).

[+] publicado na edição de 23 junho 2023 do Açoriano Oriental

sexta-feira, 23 de junho de 2023

Previsibilidade

Perante o falhanço (que já não é aparente) do Governo Regional dos Açores no cumprimento das medidas do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), atestado por uma plêiade alargada de empresários, associações ou do próprio Conselho Económico e Social dos Açores (CESA), assistimos a uma litigância ensaiada dirigida (na vã tentativa de justificar as suas próprias insuficiências) ao Governo da República.

Nestes últimos meses, este atraso endémico tem sido responsavelmente sinalizado, pelo maior partido da oposição, corporizando politicamente as vozes da economia regional que, em uníssono, sentem na pele a ausência de liderança na gestão e aplicação destes importantes recursos.

Esta semana, o CESA voltou a reconhecer que “nada evoluiu” nos “marcos e metas que já estavam atrasados dos trimestres anteriores”, manifestando, o que é experienciado, quotidianamente, em todas as ilhas, por agentes económicos e sociais e pela administração pública regional, a falta de competência deste Governo Regional. A que agora acresce, gravosamente, a sua incapacidade institucional na relação com a República.

Previsibilidade, é uma palavra que esta solução governativa deprecia (e aparenta desconhecer) e que tanta falta faz aos Açores (e aos Açorianos). Apesar de coligada, a responsabilidade permanece oculta.

[+] publicado na edição de 26 maio 2023 do Açoriano Oriental